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Covid-19: impactos da crise na demanda mundial de energia e nas emissões de CO2

Publicado em 24 de junho de 2020

Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), as incertezas relacionadas à saúde pública, à economia e, consequentemente, à energia durante o restante do ano de 2020 é um acontecimento sem precedentes. Levando isso em consideração, a IEA expandiu a análise realizada por meio da Global Energy Review e busca não só traçar um caminho possível para o uso de energia e para as emissões de CO2 em 2020, mas também destacar os fatores que podem levar a resultados diferentes.

A agência afirma que a pandemia de Covid-19 é, acima de tudo, uma crise de saúde global. Em 28 de abril, existiam 3 milhões de casos confirmados e mais de 200.000 mortes em decorrência da doença. Como consequência dos esforços para conter a propagação do vírus, a parcela de uso de energia que foi exposta às medidas de contenção subiu de 5% em março, para 50% em abril.

Além do impacto imediato na área da saúde, a crise traz implicações importantes para a economia global, o uso de energia e as emissões de CO2. A análise dos dados diários até meados de abril mostra que os países em bloqueio total sofreram um declínio médio de 25% na demanda de energia por semana. Os países em bloqueio parcial, em contrapartida, apresentaram um declínio médio de 18%. Dados diários coletados em 30 países até 14 de abril, o que representa mais de dois terços da demanda global de energia, mostram que a queda na demanda depende da duração e do rigor dos bloqueios.

A demanda global de energia diminuiu 3,8% no primeiro trimestre de 2020. A maior parte do impacto foi sentida em março, quando as medidas de confinamento foram aplicadas na Europa, na América do Norte, entre outros. Assim, observa-se que a demanda global de carvão caiu quase 8% em relação ao primeiro trimestre de 2019. A demanda de petróleo, por sua vez, sofreu uma redução de 5%. Na demanda por gás, o impacto da pandemia foi moderado, resultando em uma redução de aproximadamente 2%. As energias renováveis foram a única fonte que registrou um crescimento na demanda, que foi impulsionado por uma maior capacidade instalada e pela  expedição prioritária.

A demanda de eletricidade, por sua vez, diminuiu 20% ou mais durante os períodos de bloqueio total ocorridos em vários países. Dessa forma, a queda se deve ao fato de que o aumento na demanda residencial é superado, em muito, pela redução nas operações comerciais e industriais. Durante semanas, a demanda se assemelhava a de um domingo prolongado. A queda no consumo aumentou a participação de fontes renováveis no fornecimento de eletricidade.

Analisando-se o ano inteiro, nota-se um cenário que quantifica os impactos energéticos de uma recessão global generalizada, causada por restrições de meses à mobilidade e às atividades sociais e econômicas. Nesse cenário, a recuperação das profundezas da recessão de bloqueio é apenas gradual. Além disso, é acompanhada por uma perda permanente substancial da atividade econômica, apesar dos esforços das políticas macroeconômicas.

O resultado desse cenário é uma contração de 6% na demanda de energia, a maior em 70 anos em termos percentuais. Assim, pode-se dizer que o impacto do Covid 19 na demanda de energia em 2020 seria sete vezes maior do que o impacto da crise financeira de 2008 na demanda global de energia, atingindo todos os combustíveis.

A demanda por petróleo pode cair 9% ao longo do ano, retornando o consumo de petróleo aos níveis de 2012. No caso do carvão, a demanda pode cair 8% ao longo do ano. A demanda por gás, por sua vez, pode cair ainda mais no decorrer do ano do que no primeiro trimestre. A demanda por energia nuclear também cairia em resposta à menor demanda de eletricidade. Já a demanda por fontes renováveis, por outro lado, deverá aumentar devido aos baixos custos operacionais e ao acesso preferencial a muitos sistemas de energia. Além disso, o recente crescimento da capacidade, bem como alguns novos projetos que entram em operação em 2020, também aumentariam a produção.

A estimativa da IEA para 2020 demonstra que a demanda global de eletricidade cairá em torno de 5%, com reduções de 10% em algumas regiões. As fontes de baixo carbono superariam em muito a geração a carvão em todo o mundo, ampliando a liderança estabelecida em 2019.

Prevê-se que as emissões globais de CO2 caiam 8%, ou quase 2,6 gigatoneladas (Gt), atingindo níveis de 10 anos atrás. Essa redução ano a ano seria a maior de todos os tempos. Ela é seis vezes maior do que a redução recorde anterior de 0,4 Gt em 2009 – causada pela crise financeira global. Além disso, é duas vezes maior do que o total combinado de todas as reduções anteriores, desde o final da Segunda Guerra Mundial. Assim como ao término das crises anteriores, no entanto, a recuperação das emissões poderá ser maior do que o declínio, a menos que a onda de investimentos para reiniciar a economia seja dedicada a uma infraestrutura de energia mais limpa e resiliente.

FONTE: Agência Internacional de Energia. The impacts of the Covid-19 crisis on global energy demand and CO2 emissions. Disponível em: https://www.iea.org/reports/global-energy-review-2020