Risco e recompensa: o papel da gestão na orientação para contratação no Mercado Livre de Energia.
Publicado em 27 de fevereiro de 2019
Que a segurança de fornecimento energético é um pilar fundamental para o bom desenvolvimento das empresas que dependem desse insumo, não há dúvidas, sendo a premissa “garantia de recebimento de energia elétrica” em suas unidades consumidoras, uma das primeiras exigências feitas pelos responsáveis de um projeto de migração ao mercado livre de energia. Mas quando se trata da segurança institucional e contratual do fornecedor, qual seja, da verificação e preocupação com relação ao lastro de geração, capacidade financeira e riscos operacionais, se observa menor grau de acuidade na análise, expondo os consumidores a perigos sequer dimensionados.
Não há que se falar sobre o mérito de alguns fornecedores de energia em detrimento de outros. Não se trata disso. Há, na pluralidade de empresas ofertantes de energia, a sustentação e o atendimento de um requisito fundamental às boas práticas de um verdadeiro livre mercado: a descentralização da oferta, múltipla por vários comercializadores, promovendo a salutar competição pela demanda e evoluindo o mercado constantemente. Todavia, na medida em que a competitividade se acirra e os ofertantes se sujeitam a graus maiores de risco, espremendo os preços e aumentando a exposição por falta de lastro, é o consumidor que exercerá a maior influência de qualquer mercado livre, o poder de escolha. Mas, fazer uma boa escolha passa por ter conhecimento pleno das suas opções, e é ali, nesse exato momento, que uma gestão de energia comprometida e responsável mostra o seu valor, pois caberá ao gestor de mercado livre da empresa consumidora equilibrar as condições de conhecimento entre as partes compradora e vendedora do contrato de energia elétrica. A essa gestão, nada além do interesse exclusivo de seu cliente pode caber na orientação para contratação, de modo que a gestão não possa estar atuando tanto na consultoria quanto na comercialização, sob pena de ela existir de modo paradoxal, em decorrência do conflito de interesses na otimização de seus lucros, nunca podendo passar sob seu juízo de valor se o direcionamento de determinado fornecedor de energia lhe trará maior ou menor ganho no deslinde negocial desse com o seu cliente, o consumidor.
Mais do que isso, a gestão de energia deve ser solidária aos receios de seu cliente, não sendo admissível que o cliente se torne um laboratório de ensaios para fornecedores que possam estar com estratégias arrojadas de preços e condições, mas sem que essas tenham nítidas e inquestionáveis razões fáticas para justificar tamanha recompensa.
É no bojo de uma grande expectativa de ganhos, geralmente superiores à média do mercado, que está semeada a possibilidade do cliente amargar com prejuízos advindos da incapacidade do fornecedor honrar com seu contrato, onde mesmo que este seja um risco natural de um mercado competitivo, o mesmo se alardeia, por diversas vezes, na fase da análise das propostas. À gestão, não cabe fechar os olhos por conveniência de sua receita. E ao cliente, cabe a escolha se o risco vale a recompensa. E para isso, é necessário que ele tenha todo o aporte de conhecimento que somente uma gestão realmente capacitada pode dar.
Importante: A exposição se trata de opinião do autor, não necessariamente refletindo a opinião da Perfil Energia.
Renan Zenato Tronco